sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Yu Koyo Peya

Sociedade Morta

Anarquia Depois Do 11 De Setembro!


Por John Zerzan

Está claro que o câncer global do capital e da tecnologia devoram a cada dia mais vidas em toda esfera. Muitas espécies, culturas e ecossistemas estão sendo dissipadas em todos os níveis. O câncer da Mega-Máquina está em atividade, como um parasita hospedeiro que consome. E se alguma vez o seu movimento econômico pára, os alarmes das sirenes se espalham pelo mundo inteiro.

Esta implacável colonização/globalização teve ascendente resistência em toda parte. No crepúsculo dessa dolorosa luta, crise tão profunda, algumas das oposições tomaram desesperadas formas de fundamentalismo religioso. Deste desespero surgem os últimos gestos de violência suicida, desesperançosa e sobre qualquer nível indefensável. O romancista U.S. Naipal nos lembra que "O mundo está ficando cada vez mais fora do alcance das pessoas simples que possuem apenas religião. E quanto mais elas dependem da religião, caminho no qual não resolve nada, mais o mundo permanece distantes delas".

Mas como o escritor Joseph Lelyveld da revista New York Times descobriu através de entrevistas com familiares e partidários, os homens-bomba são recrutados por uma promessa com estendido apelo ao desafeto entre os jovens: "Melhor uma morte significativa do que uma vida sem razão".

Heidegger descreveu nosso período histórico como um "consumado sem sentido". As perplexas possibilidades de realizações pessoais estão duramente confinadas no Terceiro Mundo. Na realidade, o estandarte estéreo do Primeiro Mundo está completamente devastado em seus próprios costumes. No vazio pós-moderno que é o E.U.A. hoje, dez milhões de pessoas de todas as idades tomam medicamentos anti-depressivos e contra a ansiedade. Isto não é inimaginável diante a ânsia, e rotineiramente são prescritas drogas psicotrópicas para todos, começando na infância. E este é apenas um exemplo numa lista de famosas patologias que ultrapassam a esfera pessoal e social. Por que as pessoas estão dispostas, e até mesmo ansiosas, para aceitar como normal o estado induzido por drogas nelas mesmas e em suas crianças? Talvez por causa do medo mais generalizado ultimamente. Adorno escreveu penetravelmente à respeito da morte: "As pessoas realmente vivem pouco, ou talvez mais corretamente, quanto mais elas se tornam cientes que realmente não possuem vida, mais abrupta e assustadora a morte se torna para elas, e mais isso se parece com um terrível acidente".

Para todos aqueles nos E.U.A. no limiar da vida adulta, suicídio é a terceira causa principal de morte. Para cada dois assassinatos há pelo menos três suicídios. Dolorosos e sem sentido.

Ignorando estas realidades onipresentes, o American Spectator (setembro de 2001) focou sobre os aspectos dos sequestradores suicidas do 11 de setembro. "Luddites over Broadway" argumentou que somente a tecnologia pode nos salvar, uma vez que "a natureza é brutal, mortífera e Darwiniana". Opondo-se "criatividade" à sensibilidade "Ludita" dos agressores, A.S. argumentou que a criatividade é nossa chave para o talento. Afirmando que ela só floresce sob o capitalismo. Revelando também o tipo de "criatividade" a qual eles falam - a abastecida pela razão instrumental e fundamentada na dominação.

De maneira alguma, em minha opinião, a visão anti-tecnológica, ludita e primitivista da anarquia, tem alguma semelhança com o tipo de visão teocrática e viciosa misoginia de Bin Laden. O que não quer dizer que a implacavél artificialização do mundo não deva ser denunciada e invertida. O psicoterapeuta Robert Marchesani escreveu recentemente, "Quanto mais temos tecnologia, mais as pessoas parecem condenadas e desumanizadas por ela, talvez porque essas pessoas se transformam em próprios pedaços da tecnologia não podendo sentir nada mais".

Na Turquia, segundo alguns anarquistas de lá, estão construindo uma ponte das religiões fundamentalistas para o primitivismo, pelo menos por alguns. Eles possuem um negócio depois da vida (e portanto sempre reacionário), uma utopia escapista que se esforça em confrontar a tecnologia e o capital aqui e agora. Um fenômeno muito esperançoso, ainda que até o momento discutido inadequadamente.

A respeito de dois anos atrás (Tikkun, janeiro/fevereiro de 1999), David Ehrenfeld prenunciou "O Próximo Colapso Da Era Tecnológica". Seu sumário: "A globalização tecno-econômica está se aproximando do seu apogeu, o sistema está se auto-destruindo. Há somente um curto mas bastante danoso período de expansão ocidental".

Para se livrar do colapso e, além disso, evitar vítimas, nós devemos encontrar uma solução, renovação e solidariedade. É crucial que nos comprometemos energética e conscientemente à inevitável descontrução da tecnologia. Aqueles que escolhem suportar passivamente o agravamento pessoal, social e das condições planetária, explodem tudo em volta em atos suicidas de terror ou estão fundamentalmente impotentes contra o destrutivo sistema de massas.

"Ninguém pode ter acreditado que estas torres gigantescas possam ter caído justamente deste jeito", declarou um repórter incrédulo da CNN sobre o 11 de setembro. Sistemas sociais foram derrubados, e até mesmo civilizações caíram, e esta ordem também deverá cair. Resistência criativa e elasticidade nunca foram tão necessárias; nunca tiveram que ser tão apostadas; nunca tiveram a perspectiva, e talvez seja cada vez mais possível, uma libertação do não-futuro e da marcha da morte desta civilização.


Traduzido por XchristopherX.

Pan-Erotismo: A Dança Da Vida

Por Feral Faun

Caos é uma dança, uma fluida e erótica dança da vida. E a civilização odeia o caos e, por isso, também odeia Eros. Mesmo no suposto tempo livre da sexualidade, a civilização reprime o erótico. Ela ensina que orgasmos são eventos que acontecem somente em algumas pequenas partes de nossos corpos e só através da manipulação correta das partes. Isso(ela) apertou Eros na armadura de Marte, fazendo sexo em uma economia competitiva, realização centralizada no trabalho, em vez de um alegre e inocente jogo.

Mas mesmo em meio a essa repressão, Eros se recusa a aceitar este molde. Sua alegria e forma de dançar fazem, aqui e ali, interrupções através da armadura de Marte. Como nossa existência civilizada nos torna cegos, a dança da vida continua a escorrer em nossa consciência de(em) poucas formas. Um olhar para o pôr do sol, estar em pé no meio da floresta, subir uma montanha, ouvir pássaros cantarem, estar descalço em uma praia, e começaremos a sentir uma certa exaltação, um sensação de temor e alegria. Isso é o início de um orgasmo no corpo inteiro, não se limitando as, assim chamadas, "zonas erógenas" da civilização, mas a civilização nunca deixa os sentimentos se auto-realizarem. Caso contrário, perceberíamos que tudo que não é produto da civilização é vivo e alegremente erótico.

Mas alguns de nós estão lentamente se despertando da anestesia da civilização. Nós estamos cientes que cada pedra, cada árvore, cada rio, cada animal, cada ser no universo não está apenas vivo, mas que estão mais vivos do que nós seres civilizados. Esta consciência não é apenas intelectual. Ela não será uma outra teoria acadêmica transformada pela civilização. Nós sentimos isso. Nós ouvimos as canções de amor dos rios e das montanhas e enxergamos as danças das árvores. Nós não mais queremos usá-las com coisas mortas, uma vez que elas estão muito vivas. Nós queremos ser seus amantes, incorporar-se em suas lindas danças eróticas. E ela nos fascina. A dança da morte da civilização congela cada célula, cada músculo dentro de nós. Nós sabemos que seremos desastrados bailarinos e amantes desajeitados. Nós seremos tolos. Mas a nossa liberdade está na nossa insensatez. Se podemos ser tolos, temos que começar a quebrar as cadeias da civilização, temos que começar a perder a nossa necessidade de consumir. Sem a necessidade de consumir, temos tempo para aprender a dança da vida; temos tempo para tornarmos amantes de árvores, pedras e rios. Ou, mais precisamente, o tempo, para nós, passa a não existir e a dança torna-se as nossas vidas, nós aprenderemos a amar tudo o que vive. E se não aprendermos a dançar a dança da vida, toda a nossa resistência a civilização será inútil. E esta continuará mais uma vez a governar dentro de nós e voltaremos novamente a criá-la.

Portanto, vamos dançar a dança da vida. Vamos dançar desajeitados e sem vergonha, e quem de nós, pessoas civilizadas, não é desastrada? Vamos fazer amor com os rios, às árvores, às montanhas; com os nossos olhos, os nossos pés, nossas mãos e os nossos ouvidos. Deixe todas as partes do nosso corpo despertar o erótico êxtase da dança da vida. Vamos voar. Vamos dançar. Vamos curar. Vamos descobrir que nossas imaginações são fortes, que fazem parte da dança erótica que pode criar o mundo que desejamos.


Tradução: XchristopherX

Do panfleto, "Rants, Essays and Polemics of Feral Faun (Declamações, Crônicas e polêmicas do Feral Faun)" - Chaotic Endeavors, 1987.
Reimpresso no Green Anarchy #10 (Fall 2002)